Um dia no Soho: o guia definitivo do bairro
Crônicas de Londres #15 - Um rolê comigo no bairro mais famoso de Londres
Passada a ressaca da copa, é hora de partir pra frente. Sem mais textos de futebol por enquanto.
Voltando a programação normal, acho que já falei isso em algum dos textos que publiquei por aqui, mas desde que cheguei em Londres, com certeza não frequentei nenhum bairro daqui tanto quanto o Soho. E meu sentimento com a região é um pouco de amor e ódio. Amor por concentrar em um espaço pequeno tantas lojas, bares, restaurantes e praças legais. Ódio pelo movimento caótico que a área atrai, pela sujeira e perigo de “pickpocket” consequente de um fluxo de turistas incessante. Independente disso, fato é que trabalhei no Soho desde que me mudei pra Londres e acabei conhecendo muita coisa por lá. Por isso, hoje vou falar dos melhores rolês para dar no bairro, passando pelas boas mordidas, o melhor café de Londres, minhas lojas de roupas preferidas e outras coisas mais. Bora?
O dia começa na Tottenham Court Road, uma das estações mais movimentadas de Londres e destino para quem vai de metrô até o Soho. Já na saída na Oxford Street, se vê a a aglomeração que a área recebe todos os dias já pela manhã. Muita gente que vai para turistar, bater perna, comprar, comer, beber e trabalhar, que era meu caso. Antes de ir para a Amathus (empresa de bebidas que trabalhei aqui), eu tenho uma parada quase que obrigatória para pegar um café. Eu divido as opções mentalmente em três categorias: aquelas para nunca ir (Starbucks, Costa, Prêt e qualquer uma dessas que você vê em todo lugar); as para ir de vez em quando (Gail's e Ole & Steen por exemplo) e minhas favoritas (Fuckoffee e Algerian Coffee Stores). No Soho você encontra a única unidade do Algerian Coffee Stores em Londres, e para mim um dos melhores cafés que tomei por aqui. A loja que é uma das mais tradicionais de Londres foi aberta em 1887 e fica na Old Compton Road. Quando você entra, já começa uma imersão aromática e cultural no lugar de imigrantes argelinos que vendem e moem na hora café do mundo inteiro, além de outras especiarias. A venda do café pronto para beber nem é tanto o forte deles, já que a maioria dos clientes vão para comprar o grão moído, mas garanto que dificilmente se toma um café mais fresco e bem feito do que lá. Não espere mil tipos de café, afinal eles só fazem o café preto, espresso e café com leite, o que acho mais um indicativo de qualidade. Além de tudo isso é muito barato: £1 qualquer café. Café tomado, prontos para seguir a caminhada.
Além do cafezinho, claro que precisamos parar pra fazer uma boquinha e começar o dia devidamente. Ali do lado do Algerian Coffee, fica o B Bagel, uma ótima opção para começar o dia com sustância sem ter que pular o almoço. Os bagels são feitos na hora, fresquinhos e montados em sequência. Recomendo muito e o meu preferido é o chicken avocado. Outra opção que adoro é a casa de sanduíches Make Mine. Por lá eles fazem lanches na ciabatta com uma pegada meio mediterrânea, embora tenha de tudo. Vale muito a pena também. Outro ponto famoso do bairro, fica na Wardour Street: o Bar Bruno. Muito conhecido em outras épocas por ícones do cinema e da música, ele não tem a mesma áurea que já teve um dia, mas vale a pena passar para conhecer e os sanduíches são bons. Barriga cheia, pé na areia.
Para conhecer bem o bairro, precisamos andar bastante. A parte boa é que em toda esquina, ruazinha e portinha se acha algo interessante. Com certeza, para roupas, não há lugar melhor em Londres, se você procura peças de streetwear e casuais. As minhas preferidas são: Aimé Leon Dore, Axel Arigato, Studio Nicholson e Cole Buxton. Para quem quer algo mais skate e despojado: Stussy, Palace e Supreme são logo ali também. Todas essas marcas e designers são difíceis geralmente de achar em outras cidades e que valem a visita. Além disso, fica a menção também da Dover Street Market, uma galeria que abrange pop-ups das principais marcas do mundo em um espaço que por si só já é uma obra de arte. Vale muito! Importante: se já tiver vindo a Londres, fuja das lojas grandes da Oxford Street.
Outro lugar para compras que acho incrível é a Dunno Curated. Um brechó que se destaca pela curadoria muito bem feita de diversas peças e marcas diferentes e as revende na loja. Vale muito a visita para comprar ou se inteirar de novidades e lançamentos. Além disso, eles sempre estão fazendo eventos abertos ao público e convidando artistas de diferentes áreas para expor seus trabalhos.
Depois de passear, claro que a fome vai bater de novo. Mas não se preocupe, você tá no lugar certo para uma comida rápida, que não vai te segurar por horas dentro de um restaurante enquanto o dia está passando. Para isso, o Berwick Street Market é o lugar perfeito para pegar uma algo e comer por ali (acontece somente de segunda a sexta). Recheado com opções literalmente do mundo inteiro, a minha barraquinha preferida é do Jerusalem Falafel: o melhor falafel que comi em Londres, tudo muito fresco e feito na hora (do próprio falafel ao pão). Recomendo pegar sua comida e ir comer em alguma das pracinhas perto que são uma tentativa de refúgio no meio daquele caos. As mais conhecidas e bonitas são a Golden Square e Soho Square Gardens.
Depois de almoçar, ainda temos muito para conhecer e descobrir no Soho. A parte das lojas de roupa que falei anteriormente, o bairro ainda reserva muitas lojas legais de diferentes tipos que valem a pena conhecer. O Soho é muito famoso pela cena artística com vários escritórios de produção de filmes e música, por exemplo, os Rolling Stones começaram sua carreira tocando em bares e casas por ali (o Marquee Club que ficava na Oxford Street ficou famoso por ser o primeiro palco da banda, mas já não existe mais). Além disso, David Bowie gravou várias das suas músicas em estúdio na St. Anne's Court, uma passagem entre a Wardour Street e Dean Street. Influenciado por essa vibe artística da região, o Soho tem várias lojas de vinil com raridades. A Third Man Records e a Sounds of the Universe valem a visita.
Outra loja que eu gosto muito, mesmo não sendo um fã do assunto é a Gosh! Comics, uma loja de revista em quadrinhos enorme com vários exemplares de colecionador e que te leva para uma imersão no mundo dos quadrinhos. Mesmo que você não seja um geek, recomendo uma passadinha para conhecer.
Se você tá procurando garrafas de bebidas que dificilmente acha (ou acha com um preço razoável no Brasil), claro que não poderia deixar de recomendar uma passada na Amathus, loja que trabalhei por um tempo e que tem um dos melhores portfólios de bebidas na capital do mundo para o assunto. Por lá você encontra de tudo, mas a seleção de whisky é especial, com Macallans e Glenfarclas que você dificilmente encontra em outros lugares de Londres e do mundo além dos maiores e reconhecidos vinhos, desde os grandes Bordeaux e Borgonha aos ícones do novo mundo.
Por fim, para terminar a noite no Soho nada melhor que um jantarzinho seguido por uma “gig” em um dos inúmeros clubes de jazz que a região abriga. O mais famoso, certamente é o Ronnie Scott's, mas lembre de chegar cedo porque a casa fica lotada bem rápida, afinal é uma das mais famosas de Londres. Para o jantar, o Soho também oferece um milhão de opções que com certeza renderia um artigo por si só. Por isso, vou passar rapidamente por alguns que mais gosto. Italiano: Lina Stores e Bancone. Contemporâneo: Ducksoup. Indiano: Kricket (já fiz um texto sobre ele). Tapas: Copita e Barrafina. Drinks: Bar Termini (também já escrevi sobre no Moodboard).
Enfim, as opções são muitas e assim como seria impossível conhecer o Soho em um dia, seria impossível também escrever sobre ele em um texto. É um dos bairros mais apaixonantes de Londres, mas também talvez o que mais atraia turistas, então se programe e cuidado para não cair em opções “pega turista”. De resto, aproveite e ande bastante, explorando o que cada portinha tem a oferecer.
E você? Quais suas dicas do Soho? Manda para mim e deixe seu comentário!