Essa publicação está sendo feita de forma excepcional por alguns motivos: primeiro, porque talvez fuja um pouco dos assuntos que tenho escrito por aqui, segundo, por não respeitar a freqüência dos meus textos e o hábito de os publicar toda sexta pela manhã e por último, porque vai ser um texto um pouco mais curto, uma homenagem, mas tudo isso por um bom motivo: para falar do meu maior ídolo no esporte e a chance que tive de ir me despedir dele na quadra.
Desde muito cedo, eu sempre fui fissurado por acompanhar e assistir esportes e hoje eu entendo facilmente o porquê desse fascínio. O esporte, principalmente de alto rendimento, gera histórias fantásticas. Histórias de superação, surpresas, zebras, e grandes atletas que mesmo se comparados aos de mais alto nível do mundo, se distinguem por atuações incríveis e títulos. Isso também explica o fato de eu não ter muitas preferências em relação a qual esporte acompanhar: sempre amei futebol e torço para o Flamengo (assim como quase toda minha família, doutrinados por tios fanáticos), mas também acompanho muito basquete e tênis. Esse último, sempre teve um lugar especial por eu ter jogado desde os 10 anos. E como todo garoto da minha geração, eu tenho uma admiração muito grande por Roger Federer.
Era indiscutível que ele era o maior da geração e logo se tornaria o maior da história. Lembro de acompanhar ansiosamente a “corrida” para superar Pete Sampras no número de títulos de Grand Slam, mas não eram só as conquistas que faziam dele um ídolo de uma geração. A plasticidade dos seus movimentos, o backhand com uma mão em uma época que poucos ainda jogavam assim e a elegância dentro e fora das quadras faziam dele um exemplo de atleta. Além disso, lembro de vê-lo quebrando a raquete em quadra apenas uma vez na vida, tamanho era o respeito pelos adversários e pelo esporte que ele sempre teve.
Pouco tempo depois de Federer surgir e conquistar o mundo, veio um tal de Rafael Nadal, que descobriríamos tempo depois ser outro gigante do esporte. Primeiro dominando o saibro de Roland Garros, mas logo abocanhando títulos normalmente vencidos pelo Federer como no US Open, Australian Open e claro em Wimbledon. O jogo mais memorável para mim foi a final de 2008 em que Nadal bateu o Federer pela primeira vez na grama sagrada em Londres e conquistou Wimbledon, depois de seis horas de partida. Lembro exatamente onde eu estava, e minhas reações ao ver meu maior ídolo perder para seu algoz, que acredite, pela rivalidade com Roger era um tanto desprezado na época por mim e outros fãs do Federer.
Na expectativa de contar para meus filhos e netos no futuro e riscar uma listinha imaginária, eu busco oportunidades de ver meus maiores ídolos de perto, seja em um palco, na quadra ou no campo. Apesar de ter visto ao vivo exercendo suas habilidades craques como Ronaldo, Ronaldinho, Messi, Nadal, achei que Federer seria um que ficaria faltando. E sempre foi o que eu mais queria ver, afinal foi meu primeiro ídolo, junto com Ronaldo, nos esportes. Eu sabia que ele estava próximo de aposentar, mas não achei que entre o anúncio e seu jogo final, o intervalo seria uma semana somente. Mas para minha sorte, e generosidade do destino, seu palco final seria aqui em Londres, onde meses mais cedo tinha realizado outro sonho de ir a Wimbledon e assistir alguns jogos. Dessa vez, não seria na grama que consagrou Federer, mas seria aqui pertinho de mim. E é claro que eu não deixaria a oportunidade que o destino me deu de ver e se despedir do meu ídolo. Fui até a O2 Arena na última quinta, um dia antes do início da Laver Cup e do jogo final do cara. No dia de treino, com estádio lotado, tive a oportunidade de viver um momento histórico: Federer, Nadal, Djokovic e Murray jogando um jogo de duplas. O clima era leve, porém de despedida e eu pude ver a poucos metros de mim que o meu fascínio pelo Federer era comum a todo o estádio e aos outros gigantes do esporte que dividiam a quadra com ele. Me emocionei em muitos momentos e o arrepio era uma sensação quase que constante enquanto eu estava lá. Não satisfeito com minha posição na arena, dei um jeitinho bem ao estilo de “O Impostor” de sair do meu assento e ficar bem perto da quadra, a poucos metros não só do Federer, mas de Nadal, Djokovic, John McEnroe e Boris Becker e no final do treino, Federer foi ovacionado por todos que estavam dentro da arena e foi fácil ver que a minha comoção se estendia a todos ali, até aos gigantes que compartilhavam a quadra com ele, que por um instante viraram meninos, vendo seu ídolo aposentar.
66 Grand Slams em quadra e um sonho realizado. Obrigado Federer e obrigado Londres por me proporcionar mais um momento único na minha vida.
obrigado Federer!!! que belo texto, meu amigo!