O Borough Market e seus entornos guardam muitos passeios, goles e bocados bem interessantes em Londres. Tanto para os turistas que dali podem passear pela City, o centro financeiro, a London Bridge, o Tate e tantos outros locais a pé, quanto para os locais que trabalham e vivem por ali e utilizam o Borough como um ponto perfeito para almoço, happy hour ou jantar. Hoje, vou falar de um restaurante incrível que fica no Borough Market (também tem uma unidade no Soho) que na nossa listinha entrou na categoria dos imperdíveis aqui de Londres.
Em uma certa sexta feira recebi uma mensagem da Fe dizendo que tinha conseguido reservar um restaurante para nós, desses que tem vagas apenas para meses de distância. Aliás, abrindo um parêntese sobre isso: aqui em Londres, como já disse, quase todo bar e restaurante exige reserva. Alguns são bem difíceis de conseguir, mas com um pouco de paciência e flexibilidade, você consegue tranquilamente reservar para ir em quase todo lugar (mesmo os que estão em alta) sem tanta antecedência assim. E com um jeitinho, ela conseguiu pegar um lugar para nós no Berenjak, que até então nós não conhecíamos, mas como está na nossa famosa listinha de dicas que fomos reunindo, sabíamos que a chance de valer a pena era alta. O horário da reserva não era o mais simpático: 21h30, porém era o único horário disponível na agenda disputada deles.
Nós tínhamos tempo de sobra para chegar lá, dado o horário da reserva e, por isso, fomos mais cedo sabendo que naquela região sempre tem coisa para fazer (e comer e beber) mesmo com boa parte do mercado já fechado. Chegamos lá e enquanto esperávamos nossa mesa no Berenjak, pegamos um pint em um dos inúmeros pubs por ali e comemos uma empanada no Porteña, um argentino que faz empanadas clássicas e deliciosas no Borough Market. Fica aí uma recomendação: se tiver alguma reserva em um lugar mais agitado de Londres como o Soho, London Bridge ou Mayfair, vale a pena ir um pouco antes para aproveitar a região e já tomar um aperitivo.
No horário da nossa reserva, andamos até o restaurante e logo entendi o porquê da agenda disputada. Antes de provar a comida, já dava para entender que, de forma compatível com os imóveis apertados de Londres, aquele era mais um restaurante que permitia poucas pessoas acomodadas, entre mesinhas nos cantos balcões estreitos e uma cozinha que ficava rodeada de um balcão em L onde todos acompanhavam a produção. Desde o pão que era assado na pedra na hora até as carnes e vegetais que iam em uma grelha parecida com uma parrilha. O restaurante tem a cozinha à vista, e nesse caso bem à vista, pois era o ponto focal, quase no centro do restaurante e bem iluminada em comparação ao restante do espaço. Esse destaque para a cozinha me entretém muito por uma questão estética, de transparência com o manuseio da comida e também por acompanhar os processos e ver o “tic-tac” da operação. Tendo trabalhado em uma empresa de bares e restaurantes e viver esse universo já há algum tempo, me chama muito a atenção o modus operandi da cozinha.
O Berenjak é um restaurante iraniano (ou persa) com um toque moderno. Já me animei, afinal come-se muito bem esse tipo de comida aqui: comida de imigrante reinterpretada com um twist ou um algo a mais. Inclusive, em breve devo fazer mais um texto sobre mais um desse estilo, porém um indiano. Porém, quando eu li o cardápio não tive cem por cento de certeza sobre os pratos, como eles seriam servidos e o que esperar exatamente de cada um. Pois bem, mesmo sendo filho de libanês e vivenciar a comida árabe de muito perto na minha vida desde sempre, essas variações na culinária em um espaço relativamente pequeno nos países do Oriente Médio é bem comum. Lembro do meu pai sempre falando que um quibe cru, por exemplo, que se come em Trípoli (cidade dele no Líbano) pode ser bem diferente de algum feito a menos de poucos quilômetros dali.
O que não varia muito são os ingredientes, alguns preparos e o conceito geral do que é servido. Muitas verduras como berinjela, pepino e tomate, grãos como grão-de-bico, lentilha e arroz e proteínas como cordeiro e frango e preparos feitos no carvão, misturando com o frescor das ervas. O restaurante oferece uma espécie de menu-degustação e um menu à la carte. Fomos no à la carte por causa do preço e da quantidade de comida, que seria excessiva no menu degustação.
Pedimos para começar o Hummus e Kaneghi: uma pasta feita de grão-de-bico negro, tahini e sumagh (um tempero em pó feito a partir de algumas frutas secas). Também pedimos o Kaskh e Bademjoon que é uma berinjela assada preparada como uma baba ganoush e temperada com nozes e cebola. As duas entradas fantásticas, cheias de sabor, defumadas e ao mesmo tempo frescas e ácidas. Para acompanhar tudo, pedimos o taftoon, um pão de fermento assado na hora (na pedra, como fazem os árabes) com gergelim.
Como principal, pedimos um Barreh Kebab Tond: uns pedaços de pescoço de cordeiro marinados na pimenta com estragão e iogurte e pedimos também uma salada de tomate, pepino e cebola roxa para acompanhar. Tudo muito diferente. Tudo muito bom. Alguns sabores eu já conhecia e me lembraram a comida árabe que estou acostumado, mas certamente tudo que que comemos tinha algum toque moderno ou algo surpreendente principalmente nos temperos e aromas, os pontos quase que centrais de toda aquela comida.
Para finalizar, pedimos também uma sobremesa que era bem famosa na casa: o Napeloni. Nada mais é do que uma massa folhada com jersey cream (algo entre o chantilly e o creme de leite) e um creme feito a base de flor de laranjeira. Muito bom e inesperadamente muito leve.
Por fim, o Berenjak é uma ótima recomendação de comida árabe moderna aqui em Londres. O ambiente é intimista e descolado, além de um serviço muito bom. Na nossa listinha de restaurantes entrou no “Must go”. Lembre de fazer reserva com antecedência, e embora não tenhamos provado, os drinks também pareciam muito bons. O valor por pessoa, sem bebida, saiu £25 o que não é tão barato assim para os padrões daqui, mas que definitivamente valeu cada centavo.