Há duas semanas, fiz uma crônica sobre um restaurante chamado Berenjak onde se faz comida persa (ou iraniana) com uma pegada moderna. Naquele texto falei sobre a quantidade de restaurantes e comida de imigrante moderna aqui em Londres, afinal essa cidade parece ser movimentada majoritariamente por pessoas de fora. Talvez isso explique a quantidade de bons restaurantes aqui. Naquele texto, mencionei outro restaurante nesse estilo, mas dessa vez um indiano que será tema do texto de hoje. Consequência do passado imperialista inglês e do British Nationality Act de 1948, a migração de cidadãos da Commonwealth durante os anos 50 e 60 aconteceu quase que de forma irrestrita para o Reino Unido com leis bem permissivas e isso explica a quantidade de indianos, descendentes e a mistura de culturas que gera alguns restaurantes incríveis como o Kricket.
Antes de me mudar para Londres, eu acho que nunca tinha comido uma comida indiana. Com certeza, nenhuma 100% autêntica. Já aqui, todo londoner parece ter seu restaurante indiano e seu curry favorito. O que faz sentido pela quantidade de indianos e por ser uma comida quente (em temperatura e picância), o que é um aconchego nos dias mais frios.
Confesso que nossas primeiras experiências em restaurantes indianos em Londres, não foram dignos de crônica ou nem se quer de menção em nenhum dos meus textos, por não saber exatamente o que e como pedir, por não conhecer os pratos e por cair em restaurantes talvez turísticos demais. Mas o Kricket mudou completamente esse cenário. Um pouco diferente sim dos restaurantes indianos mais tradicionais, mas que entrou na nossa lista “must go” em Londres.
Em alguma noite de outono por aqui, já bem mais fria do que estávamos acostumados quando chegamos (afinal, chegamos durante a maior onda de calor que a cidade já viu), a Fernanda marcou um restaurante para irmos da nossa interminável listinha de dicas que vamos reunindo. Nos encontramos quando eu estava saindo do meu trabalho no Soho e andamos até o Kricket, que fica a uns 5 minutos de distância andando de Picadilly Circus. Chegamos lá com reserva feita e esperamos na porta uns 10 minutinhos até dar o nosso horário. Entramos em um salão onde o destaque principal era a cozinha logo na entrada cercado por um enorme balcão. Acho que está bem na moda esse tipo de arquitetura nos restaurantes, já que não é nem a primeira nem a segunda vez que vamos em restaurantes quase idênticos. Tijolos aparentes, tubulação idem. Descemos uma escada e fomos sentados em uma das grandes mesas comunitárias do salão. Nesse momento ficamos felizes de poder conversar em uma língua que o casal do nosso lado não falava, pela privacidade. Não que eu seja contra mesa comunitária, mas em troca de alocar mais gente, claramente perde-se um pouco em conforto.
Vamos ao que interessa. Para beber, ficamos somente em não alcoólicos. O cardápio de comes se divide apenas em pães, vegetariano, peixes e carnes, acompanhamento e condimentos sendo que os pratos são feitos para se colocar no centro da mesa e compartilhar. Nada de carne vermelha no cardápio. As opções vegetarianas, obviamente por ser um restaurante indiano, era a maior e a que mais nos atraiu também.
Pedimos uma abóbora grelhada e recheada com arroz, paneer (um queijo branco que eu nem sabia que existia, tipo um cottage), molho makhani (a base de pimentões) e avelãs. Muito bom. Aromático, picante, ácido, tudo na medida certa e bem saboroso. Também pedimos um frango frito e vamos combinar que não tem como ser ruim, mas esse estava especialmente bom. Para acompanhar tudo, pedimos alguns kulcha. Basicamente um pão que imagino ser não fermentado e que eles oferecem em diferentes preparos. Pedimos um com tâmara e pistache e outro com alho e coentro. Também pedimos um lachha paratha com manteiga noisette que é um tipo de pão também que acompanha bem o curry, mas tem uma textura um pouquinho diferente do kulcha, um pouco mais “massudinho” e uma massa levemente folhada. Pedimos esse último para finalizar o molho que acompanhava a abóbora como indicado pelo garçom para esse propósito específico e que foi uma das melhores coisas que já comi.
O Kricket fica na 12 Denman Street no Soho e o preço por pessoa ficou £25 sem bebida alcóolica.
Quem vier a Londres, não deixe de ir.
Amei Tarik!