Eu me sinto muito sortudo de ter amigos de viagens, aqueles de passar horas juntos e dividir casa sem muito estresse. Mari e Victor com certeza são desses. E há duas semanas, recebemos esses queridos aqui em Londres, aliás um dos primeiros a nos visitar aqui (fica a deixa amigos). Apesar de rápida a viagem, posso dizer que foi muito intensa. Muitos km andados, muita comida, bebida, lugares legais, conversa fiada e risada. Foram 4 dias em Londres e 4 em Paris. E hoje, vou falar sobre os dias em Paris e diferentemente de um guia do Pedro Andrade, não espere muitas recomendações. Pelo contrário, o que vou falar hoje é sobre o que não fazer por lá.
O que não fazer #1: parlar français when you do not speak francês.
Aceite. Os franceses (espero que não tenha nenhum lendo) são difíceis. Se for de Paris então, são muito difíceis. Minha colega Saskia, de Marseille, jura que é só o parisiense, mas não sei se concordo 100%. Um misto de esnobe com classe e conceituado convicto, eles sabem que são olhados de forma diferente pelo mundo e meio que se vangloriam disso. A cidade e sua importância histórica imponente e o fato de falarem uma língua totalmente diferente dos seus vizinhos e pouco falada fora da França dá um ar de exclusividade e presunção na cabeça deles. E eles gostam disso. Então não tente andar como eles, falar a língua deles (se você não fala, claro) e ser como eles. Acho que talvez seja ferir um pouco o orgulho do francês, afinal somos meros latinos. Isso vai te render muitos olhares, umas risadas pelas suas costas e um leve julgamento.
O que não fazer #2: procurar um lugar para almoçar em cima da hora.
Apesar de uma cidade bem grande e movimentada, Paris tem muitos restaurantes que adotam aquela famosa e deliciosa pausa pós almoço. Muitos restaurantes vão fechar cedo para a pausa até o jantar. Se você quiser ir em bons restaurantes, apesar de se comer muito bem de forma em geral lá, se programe e não faça como nós. Não fizemos nenhuma reserva e quando tentamos ir em alguns restaurantes que tínhamos indicação, estava lotado. Em um dos dias, depois de muita caminhada, estávamos morrendo de fome e não achávamos nenhum lugar aberto ou com mesa vaga, a não ser o Méqui (que apesar de eu adorar, nunca comeria em Paris. Custo de oportunidade, né?) e uns restaurantes meio duvidosos. Já era umas 4 da tarde quando achamos um lugar que parecia meio caro, mas nessa altura já estávamos foda-se para a grana, só queríamos comer. E demos sorte: um dos melhores entrecôte que já comi!
O que não fazer #3: deixar de levar um óculos de grau se você usa lente.
Além da Torre Eiffel, Arco do Triunfo etc etc, também conhecemos um hospital e algumas clínicas em Paris. “Do what locals do”, certo? Tudo isso graças a uma revolta da lente de contato da Mari. Como ela não tinha levado óculos, era a lente atacada ou ver as belezas da cidade além de um palmo na sua frente. Depois de uma saga para conseguir tirar a lente e um olho inflamado, fomos em busca de um socorro. Nada grave, tudo bem e segue o jogo. Ela tá ótima e as visitas médicas viraram história no final, além de confirmarem que a lente já não estava no olho há muito tempo.
O que não fazer #4: se for a um jogo do PSG, compre o ingresso correto.
Desde pequeno, sempre que fazia alguma viagem com meus pais, uma prioridade para mim era ir em estádios de futebol e se desse muita sorte ir a um jogo. Quando fechamos a viagem com o casal, eu e o Victor já olhamos se haveria algum jogo em Londres ou Paris. E para nossa sorte, um jogo da Champions League em Paris nos daria a chance de ver Messi, Neymar e Mbappé, além dos outros craques. Perfeito. Sentamos para comprar os ingressos juntos e com toda cautela, compramos o ingresso no setor mais barato do estádio, o que já seria um dinheirinho bem considerável. Nós estranhamos o fato do ingresso do Victor ter sido ligeiramente mais barato que o meu, mas não nos preocupamos muito, afinal estávamos comprando o ingresso em segunda mão porque praticamente todos os assentos do estádio são para sócios que pagam o carnê e garantem todos os jogos do ano. Enfim, ingresso comprado, só falávamos disso até o dia do jogo. Para chegar no estádio já foi um perrengue. Saímos andando da Fundação Louis Vuitton e simplesmente não conseguíamos pegar taxi, uber, ônibus ou qualquer outro transporte. Decidimos ir a pé por um parque enorme, escuro e sem nenhum sinal de vida e a caminhada de uma hora para chegar no estádio nos obrigou a tomar uma cerveja em 2 minutos antes de entrar, já que estávamos atrasados e lá dentro não vendia bebida. Pegamos a fila para entrar e a uns 10 passos da catraca abrimos o ingresso no celular e vimos que o do Victor tinha uma cor azul clara, enquanto o meu tinha o azul e as estrelas características da Champions. Ele tinha comprado ingresso para o próximo jogo, do campeonato francês, contra o grande Troyes. No desespero e prestes a entrar, tentamos fazer uma gambiarra de passarmos com o mesmo ingresso e lógico que não funcionou. Eu entrei, e lá de dentro gritando para ele que estava do lado de fora, só pedi para ele dar um jeito de comprar outro ingresso. O dinheiro depois a gente resolvia. Entrei no estádio a tempo de ver os jogadores entrando e o hino da Chaaaaampions. Vivendo um misto de felicidade por estar ali e tristeza por estar ali sozinho, recebi uma mensagem com 5 minutos de jogo dele: “Entrei”. O jogo valeu a pena, 7 a 2 com 2 gols de Messi, 2 de Mbappe e 1 do menino Ney. Depois do jogo, enquanto tomávamos mais uma, o Victor me contou da saga particular dele para comprar outro ingresso e entrar a tempo, rimos muito e no final, felizmente, apenas mais uma história para contar.
O que não fazer #5: cuidado com “aroma” do queijo francês
Por fim, dica rápida: se um francês te indicar um queijo e disser que é um dos melhores da França, desconfie. Não pelo queijo em si, que pode até ser o melhor, mas pelo cheiro que vem de brinde junto. Compramos uma dessas iguarias para trazer para Londres e quem disse que a gente suportava o cheiro do queijo? Na rua já estava ruim, no trem tivemos que esconder o queijo e disfarçar para ninguém perceber que nós estávamos portando aquela arma química e quando chegamos em Londres o queijo teve que ir para o lixo (lá de fora) sem que tivéssemos a chance de provar, tamanho era o fedor. E olha que eu não sou nada fresco com esse tipo de coisa.
Apesar de vários apesares da viagem, o que importa e o que fica são as histórias e aquele sentimento bom de saudade e lembranças boas. O lugar, o roteiro e as programações são partes muito importantes, mas tenho certeza que escolher a companhia é o essencial.
Até semana que vem!
Demais!!!
Hahaha amei!